18 dezembro 2014

Crónicas do Norte (II)

Deu-se então o raro caso de eu ter ignorado os sinais da montanha. A visibilidade nula, a neve batida pelo vento, as pistas vazias. Se não fecham as pistas, então não é grave, isto pensava eu, mas sempre deixando o meu programa de percurso aos que ficavam a testar a qualidade dos chás e do chocolate quente e que sabem que não vale muito a pena dizer-me coisas com muitas palavras.

No Pic não sei quê, o ponto mais alto cá do sítio, estavam os russos. E os russos acharam piada a eu e o meu casaco cor de laranja estarmos ali. E ofereceram-me do que estavam a beber e eu aceitei, nunca se deve recusar o que os russos nos oferecem, disso sei eu. Disso e dos sinais das mulheres e das montanhas, embora hoje tenha ignorado os sinais da montanha, creio que já tinha falado nisso. E os russos riram muito quando eu bebi do que me davam a beber, pareceu-me que já esperavam o esgar. Eu aguentei sem me queixar, nunca me queixo, e os russos riram ainda mais, não tanto quanto eu havia de me rir de mim para comigo quando tentava ajudar um dos russos a levantar-se e os amigos do russo iam bebendo daquilo lá deles, enquanto se divertiam a ver o russo a escorergar por ali abaixo e eu e o meu casaco cor de laranja a dar-lhe a mão. Mas disso não sabia eu na altura, Nem o russo, por isso é que ele se ria.

4 comentários:

  1. Anónimo18.12.14

    Pipoco, Pipoco, tão mais interessante quando assim escreve.

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  2. Com tal "escorergar", entre escorrer e borregar, também eu ri.

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  3. Cláudia18.12.14

    Não há pessoa que "vai para a neve",(fiquei a saber pelos últimos posts que a Pipoco também lhe dá para isso), que não esteja a ignorar sistematicamente os sinais da montanha, a montanha diz, ou melhor grita: aqui está um frio de rachar, há alturas em que não vão conseguir ver nadinha, a única parte do corpo que vão ter de fora é o nariz, que se não tiverem o devido cuidado vai ficar da cor do do Rudolfo, a rena, só que no vosso caso não fica giro, por favor não se ponham a deslizar por mim, com essas coisas nos pés e outras nas mãos, é que pode dar-se o caso de se partirem todos e não é só ao terceiro dia e no vosso caso não ressuscitam, para mim (não esquecer que isto é sempre a montanha a falar) isso é coisa de gente que bebe e não estou a falar de chá nem de chocolate quente, vai daí ainda consigo perceber aqueles russos, agora, por exemplo, o que faz aqui aquele senhor de casaco cor de laranja...

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