11 junho 2013

Depois dos Muse

Enquanto feliz utilizador de uma viatura de conceituada marca alemã, é-me proporcionada a rara oportunidade de poder desenvolver uma teoria que estabelece proporcionalidade directa entre o interesse que os facínoras estabelecem por esta tipologia de viaturas e as outras que, não sendo de conceituada marca alemã, estão estacionadas imediatamente a seguir e imediatamente antes da viatura de conceituada marca alemã.

Acontece, à razão de uma ocasião por semestre, chegar à viatura de conceituada marca alemã e deparar com um dos vidros estraçalhado e o interior da viatura de conceituada marca alemã razoavelmente revolvido. Olhando em redor, dotado da minha elevada capacidade de analisar situações e, melhor, de saber trabalhar os dados disponíveis, constato que todas as viaturas em redor da viatura de conceituada marca alemã se mantém incólumes, isto é, sem vidros estraçalhados. Sendo eu um indivíduo com atenção quase doentia aos pormenores e sendo dotado de um elevado sentido de propriedade, jamais deixo objectos ou documentos dentro da viatura de conceituada marca alemã, sendo, aliás, reconhecida a minha determinação em manter o interior da viatura de conceituada marca alemã num espartano regime de clean desk.

Neste contexto, o facínora não poderá alegar que foi atraído por algum objecto de valor, ainda que sentimental, que o tivesse fascinado de tal forma que justificasse o acto de estraçalhar o vidro, último obstáculo a ultrapassar até alcançar o almejado objecto de desejo. O facínora move-se então pela presunção, certamente baseada em lendas antigas, que, no interior de viaturas de conceituada marca alemã, há sempre algo que justifique o estraçalhamento de um vidro. Nem mesmo a evidência de um imenso vazio no interior da viatura de conceituada marca alemã o demove, o facínora, pura e simplesmente não crê no que os seus olhos lhe mostram e continua a preferir estraçalhar o vidro da viatura de conceituada marca alemã ao invés de tentar outros caminhos e, num assomo de empreendedorismo, tentar valorizar as viaturas de marcas italianas de fundo de catálogo.

Resumindo, o que eu gostava mesmo de partilhar com o vasto auditório, é que estava fresquinha ontem a autoestrada número um, entre as quatro e as seis da madrugada, no troço compreendido entre o Porto e a cortada para os meus domínios, mas não me fez diferença nenhuma porque eu estava a precisar de apanhar ar fresco, parecendo que não, ajuda.

9 comentários:

  1. Ah ah Ah ah ah ah ah desculpe Pipoco mas isto está muito engraçado. Tem a certeza que não lhe estraçalharam o vidro na tentativa de roubar a Nossa Senhora de Fátima pendurada no espelho?

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  2. Não enxovalhe os italianos e pode ser que da próxima tenha mais sorte.

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  3. Gosto mais deste registo: parágrafos divididos em períodos funcionam muito melhor do que vírgulas.

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  4. Deixe lá, tio! Mais vale apanhar ar fresco numa viatura de conceituada marca alemã em resultado do estraçalhamento de um vidro, do que andar quentinho numa viatura ordinária com os vidros incólumes e a chauffage no máximo...

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  5. Partiram-lhe os vidros do VW Polo? Logo na noite em que foi ver Muse. Uma desgraça nunca vem só!
    Marta

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  6. Lol lamento caro Pipoco, lamento que a minha cidade não o tenha recebido com a dignidade que merece. Provavelmente foi um dos frequentadores assíduos dos lados do Dragão. Diz que vestem de azul e branco.

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  7. Gosto do som que o termo "estraçalhados" deixa no ouvido. Só gosto da palavra seguida do som. Portanto, lamento que lhe tenham 'estralhaçado' a voiture.

    Fresquinho entre "as quatro e as seis da madrugada"!? Lamento duas vezes.

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  8. Estas pessoas que estilhaçam vidros de carros de conceituada marca alemã, só pelo prazer de estilhaçar, devem ser mesmo muito estúpidas! ... ou então adivinharam o nome do dono, que ao que se consta estilhça corações com o seu MO snob-chic, ou então foi a vingança dos BILF, ou então pensaram que um condutor dum carro de conceituada marca alemã precisava de uma estraçalhada às 4 da madrugada para arejar as ideias... e o passarinho cantou...

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  9. Estou desejosa de apanhar um facínora em pleno acto. Anseio pela vingança! A última vez, ou seja, em Maio passado, que me estilhaçaram o vidro da viatura da conceituada marca alemã, roubaram-me o medidor de massa de ar. Não me levaram mais nada, mas era do medidor de massa de ar que eu mais gostava!

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