16 fevereiro 2013

Pipoco viaja em low-cost e sobrevive

Um homem chega e estende o casaco para que a assistente de bordo o pendure cuidadosamente e um homem possa chegar à sua cidade sem um vinco, a assistente olha para um homem e diz "Nice jacket" e segue o seu caminho, fica um homem ali no corredor especado, a turba a empurrar um homem, um homem senta-se e repara que os bancos são parecidos com os bancos de pau do Jardim da Estrela, em pior, depois um homem repara que é hora de jantar e pergunta pelos vinhos e pelo carpaccio de salmão, a assistente com pronúncia dos arredores de Edimburgo informa um homem que pode escolher entre batatas fritas e sopa instantânea e, quanto a vinhos, recomenda um vinho servido em garrafa de plástico e tampa de rodar, um homem faz sinal que afinal pode esperar para ir jantar à Casa XXI em chegando à sua cidade, pede o Financial Times, que não há, o Le Monde, que também não há, um homem procura no braço da sua cadeira os canais de música clássica, que também não existem, e ali fica um homem, espantando-se a cada vez que a assistente passa com o saco do lixo para que cada passageiro lá coloque o entulho que entender, uma turma de miúdos de escola de Ermesinde, que é assim uma espécie de Massamá Norte do norte, está por detrás de um homem, há uma moçoila com a voz mais esganiçada que todas as outras que não se cala toda a santa viagem, a turma recorda os dias que passou em Londres, um homem fica a saber os pormenores todos de quem se apaixonou por quem, o olhar complacente das professoras de Inglês, duas matronas que um homem imagina perfeitamente a viajar em low-cost com gosto, a miudagem aplaude quando aterra em Lisboa, uma das matronas faz anos e a turma canta os parabéns à Stôrilizabete, a voz da miúda da voz esganiçada a sobressair nas notas altas, um homem a temer pelo rebentamento dos tímpanos, um homem chega à sua cidade, veste o casaco, respira fundo, entra no carro, selecciona Bach, baixinho, abre a janela, respira e pensa que é capaz de ser um homem feliz.

15 comentários:

  1. Agora concentre-se, feche os olhos, respire fundo e imagine que é...uma mulher...

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  2. hahahahahahahahahhaahahahaha
    o Pipoco quase pipocou!....
    Caco Antibes volta que estás aperdoado!...

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  3. Anónimo16.2.13

    Se Pipoco fosse uma mulher, teria sido previdente e apostado em viajar com um blazer de cashmere, poderia ter aproveitado Londres para investir num (em mais um ?) Ferragamo, Armani ou, sei lá, Etro. Teria viajado quente, confortável, chique mas sem ostentação e sem preocupações no que respeita a vincos ao aterrar.
    Se Pipoco fosse uma mulher teria sido prudente e descarregado os últimos jornais no seu Ipad, assim teria o que ler na viagem, ao invés de optar por sujar os dedos em tinta de jornais (se os houvesse)... demasiado primário nos dias de hoje.
    Se Pipoco fosse uma mulher, recusaria qualquer espécie de comida num voo low-cost e optaria por fazer-se acompanhar de um snack com fibras, vitaminas e minerais e uma Evian comprada antes do embarque. Antes passar fome que perder a dignidade.
    Se Pipoco fosse uma mulher, levaria os seus headphones na bagagem de mão e teria Bach na playlist do seu Iphone de 64 GB.
    Se Pipoco fosse uma mulher, ao aterrar, a primeira coisa que faria depois de entrar no seu carro seria recostar-se no banco, respirar fundo e sentir-se feliz por antecipar as adversidades da vida.
    L.

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    1. Palmas também para este anónimo. Que percebe desta coisa de ser mulher e é perito no saber antecipar as adversidades da vida, sejam elas quais forem.

      Será que esta anónimo é mulher e percebe destas coisas? Ou será um homem que vive com uma mulher que percebe destas coisas? Ou será simplesmente um homem atento a mulheres que aprenderam a saber respirar?

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    2. Anónimo, nestes voos não é possível levar tanta bagagem quanto a que sugere. Até um homem sabe isto...

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    3. Anónimo16.2.13

      Pipoco, creio que ainda está sob efeito de stress pós traumático low-cost... Na easy jet pode levar uma peça de bagagem de mão consigo para a cabine. As dimensões máximas são 56 x 45 x 25 cm. As carteiras de mão, as pastas, os computadores portáteis e as respectivas malas são todas contabilizadas como uma peça, portanto se, por exemplo, tiver uma carteira de mão e uma mala de portátil, poderá considerar colocar uma dentro da outra (informações disponibilizadas no site da companhia, à distância de um click para prevenção de eventualidades e esclarecimento de dúvidas).
      Ipad, headphones, iphone, snack e água não ocupam assim tanto espaço. Até um homem sabe isto... ou deveria.
      L.

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    4. Desde que não se coloque dentro do "nécessaire", a tal "peça de bagagem de mão", embalagens superiores a 100ml, pois... por vezes acordar àquelas horas é coisa violenta e, os neurónios teimam em dormir.

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  4. Excelente! Hoje vou colocar aqui um, muito bom "tio Pipoco" (se permite que o chame assim) quando gosto muito de algo, apetece-me ser um bocado lamechas. E se gostei deste algo.

    Voltei atrás, ou bem que é 'excelente' ou bem que é 'muito bom'...

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  5. Anónimo16.2.13

    Não saber aproveitar o melhor das adversidades com que inevitavelmente nos vamos deparando e ser feliz apenas quando um sem número de requisitos são plenamente satisfeitos não deixa de ser triste..

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  6. Anónimo16.2.13

    Eu viajo em low cost com gosto. E fico em hostels, durmo em beliches, ando de transportes públicos, como em restaurantes de fast food, meto conversa com pessoas de Ermesinde ou de Edimburgo (até com matronas, veja lá!), deixo que me mostrem música que não conheço, leio as revistas da treta dos aviões e vivo em paz com os vincos dos meus casacos. Ah, e se estivesse no avião teria todo o gosto em dar dois beijinhos bem dados à Teacher Isabel.
    Ser feliz não é saber aproveitar o melhor das adversidades... É saber reconhecer o que são verdadeiras adversidades! E nesse voo eu teria sido plenamente feliz. :)

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    1. Anónimo17.2.13

      É assim mesmo. É preciso tão pouco para ser feliz.

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  7. Anónimo17.2.13

    E é assim que damos valor à nossa vida, quando nos deparamos com situações inesperadas menos agradáveis.

    Já viajei nessa Companhia há uns anos, foi medonho, never ever!

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  8. Anónimo18.2.13

    Só mesmo uma referência à minha terra natal para me fazer sair da sombra.

    Cheers!

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