15 agosto 2012

Se a casa estivesse a arder, o que salvaria? (debriefing)

Salvas as pessoas e os animais, esse é o pressuposto inicial, tenho a certeza que não perderia muito tempo e salvaria apenas a carteira (só de pensar o tempo que demoraria a substiuir os documentos...), o passaporte e, naturalmente, a apólice de seguro. Faltou a chave do carro.

Gosto de pensar que salvaria Ulysses, afinal é uma guerra que tenho em curso, mas talvez optasse por deixar arder, sempre teria uma boa desculpa para desistir, e salvaria Saramago, curiosamente escolhi o livro de Saramago que mais gosto e deixaria arder aquele que tem uma dedicatória do próprio Saramago. Gosto de gravatas, a que salvaria nem sequer é a minha preferida, mas alguém de que gosto muito trouxe-me esta gravata da Índia, pura seda, diz ele que a comprou ao artesão. Pink Floyd está ali porque "The Wall" marcou-me, tocou em repeat dezenas de vezes, durante muito tempo e "Carmen" é apenas a minha ópera favorita, já assisti a dezenas de versões, curiosamente Don Jose acaba sempre por matar Carmen no final. Ena Pá 2000 foi a banda sonora de muitos dias bons e remete-me para um dos melhores tempos da minha vida, em que os Irmãos Catita tocavam em Santos, eu não tinha que decidir nada na vida e era genuinamente feliz. Não consigo sair de casa sem óculos de sol e gosto muito destes Persol, coisas de família. O relógio também não é aquele que gosto mais, mas quem me ofereceu este (nunca comprei relógios nem telemóveis nem carros em toda a minha vida) não me oferecerá outro. Quem "faz" montanha sabe que umas boas botas são difíceis de encontrar e que é um suplício cada vez que se troca de botas. Tenhos estas há cinco anos e já subiram os Alpes franceses, suiços e italianos, os Pirinéus (dos dois lados), os Picos da Europa, com chuva, com neve e com muito calor. Finalmente o cachecol, o meu pai ofereceu-mo na penultima vez que o Sporting foi campeão, uso-o duas vezes por mês, pelo menos.

12 comentários:

  1. Anónimo16.8.12

    Pus-me a pensar verdadeiramente...acho que salvo as pessoas e os animais e a carteira com os documentos se a minha casa estivesse a arder não teria nada lá de especial para guardar e trazer comigo...bolas...q vida é a minha então?? bolas!!
    :(

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  2. Eu salvava o Agiolax (regulador da função intestinal), não consigo viver sem ele (isto para manter a classe e não dizer outra coisa, afinal trata-se de um comentário no Pipoco mais Salgado) e uns calções que supostamente tiram a celulite. Para quê salvar livros, roupa, calçado ou fotografias se temos a barriga inchada e celulite?

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  3. Eu costumava imaginar que o ferry para Tróia se afundava com o nosso carro e família lá dentro. Tinha dificuldade em resolver se agarrava primeiro a minha avó, o meu pai e a minha irmã bebé, nenhum dos quais sabia nadar, ou se mantinha a minha guitarra nova a seco, num esforço épico à Camões. Moral da história, o meu pai e a minha avó ainda não aprenderam a nadar e a minha irmã ficou-me com a guitarra. Não é grande final, eu sei.

    Treinar umas botas pode ser complicado, mais vale conservá-las depois de amestradas. Eu ando bem e não faço bolhas, mesmo quando estou a estreá-las, mas já tive de amparar um coxo descalço nos últimos 3 km da garganta do Cares. Pipoco, chegou ao Naranjo? Esse está ainda à minha espera. Pirinéus deste lado, Ordesa ou Aiguestortes? (hoje acordei assim, curiosa)

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    1. Alexandra, das três vezes que passei ao largo do Naranjo era impossível a escalada, o tempo estava agreste e limitei-me a fazer todo o maciço central (saindo de Fuente Dé e acabando em Cabrales). De uma ocasião ainda fiquei no abrigo de montanha que lhe está ao pé. Na verdade acho que não me aventuraria, aquilo é para gente que sabe de escalada muito mais do que eu.(Benasque, exactamente a meio entre Ordesa e Aiguestortes).

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  4. Tio Pipoco, o Escamillo não mata ninguém. Quanto muito mata o touro! Quem mata a Carmen é o Don José.
    Esse cd, com essa versão maravilhosa, era certamente uma das coisas que eu salvaria da minha casa em chamas :)

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    1. Meu caro Gulliver, tem toda a razão, foi o meu cérebro a pregar-me uma miserável partida. Vou alterar, obrigado.

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  5. Já leio isto com mais calma, mas retenho "irmãos Catita em Santos". Quantos e quantos serões não foram feitos com a banda sonora desvairada dessa tribo nesse lugar :)

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  6. Pipoco, achei um exercício bastante interessante e deu-me que pensar... cheguei à conclusão que à excepção da gataria, das chaves do carro e carteira não tenho apego às "coisas". Não corria para salvar nada. Foi também com interesse que vi o tal blog "The Burning House" e se com uns me ri (é impressionante a quantidade de pessoas que salvavam o seu ukulele - wtf??), constatei por outro lado que a grande maioria salvaria os seus "gadgets", o que diz muito sobre estes tempos modernos e me faz ter saudades dos tempos em que fui criança.

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  7. Peço, desde já, perdão pela presunção... http://diascaes.blogspot.pt/2011/10/o-album.html
    Mas creio que eu seria daquelas que salvaria pouco. Muito pouco...

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  8. Pois eu também ia dizer que não é Escamillo quem mata Carmen, e entretanto fixo-me nos irmãos Catita, excelentes e despreocupados tempos, de certeza que já nos cruzámos

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  9. Relogios, carteiras, uma echarpe especial, documentos e telemovel e mac e ipad. Acho q nem sequer me safava a mim com tanta tralha

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  10. Salvaria as pessoas e os animais ... não forçosamente por esta ordem, a livralhada ( também gosto de James Joyce às vezes), as drives externas com os filmes e a música da minha pirataria... Roupa, népia,joias (???) népia, deixava arder as cenas do Sporting do Marido, e depois consolava-o... :)... quem sabe os enlatados guardados para "uma crise" ???

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