01 junho 2012

Não consigo precisar o exacto momento em que me transformei num céptico,

...foi certamente antes daquele jogo em que o jogador dos Paços de Ferreira meteu golo com a mão e isso nos tirou o campeonato, talvez tenha sido quando a Rita, que era de um campeonato claramente acima do meu, me convidou para ir ver o mar e afinal era para se aconselhar comigo no que respeitava a dar o primeiro passo para convidar o Carlão, que jogava nos juvenis do Estrela da Amadora, para dar um salto ao Frágil, naquele tempo usava-se ir ao Frágil, mesmo com a Guida Gorda a fazer de generala à porta.

Na verdade nem há razões para me ter transformado num céptico, afinal o meu pai pegava-me ao colo e mandava-me ao ar e eu sabia que ele me seguraria sempre e essa certeza de que há sempre uma rede quando me lanço no vazio acompanhou-me todos os dias da minha vida, mesmo quando a todos parece que não há rede nenhuma, eu sei que sim, é uma rede invisível mas está lá, talvez seja uma rede que só eu veja, talvez de facto ela não estivesse lá no início do salto e alguém, no último milésimo de segundo, a tivesse colocado lá, só para que eu não deixasse de me lembrar que o meu pai, quando me pegava ao colo e me atirava ao ar, segurava-me sempre.

Talvez eu seja um céptico fraquinho, se calhar é isso.

7 comentários:

  1. Então Pipoco? Está cá um sentimentalão!
    Da maneira como aborda a questão, dando tanto enfâse à questão da confiança, fico a pensar que se tornou céptico quando percebeu que, não obstante saber que tem sempre uma rede (para uns a família, para outros os amgos, a religião, o qur quer que seja), faltará a alguém que conta consigo como rede. Teme faltar a alguém que conta consigo?
    Um "incorrigível optimista" acredita sempre. Acredita que há uma rede, mesmo que só apareça no "último microsegundo". Acredita também que a rede não está lá, não vai aparecer no início do salto, nem o último nanosegundo. Ainda assim saltará, porque acredita que não vai ser precisa rede.

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  2. E, porque tive uma infância feliz, e o meu pai/rede continua a estar lá, desejo-lhe um feliz dia da criança. Agora vou saltar, de costas e olhos fechados! Weeeeeee!

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  3. Estaria capaz de apostar, eu que nunca aposto, que o dono do Pipoco será capaz de dizer essas coisas, ao vivo, sem esboçar um sorriso, e que meio mundo não perceberá metade da ironia que lhe vai na alma.
    E, se me apetecer dobrar a aposta, ainda diria que serão os seus olhos a traí-lo. A menos que tenha conseguido chegar àquele ponto de perfeição em que até os olhos domina mas nisso eu não acredito, os olhos traem-os sempre.

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  4. Eu sei do que está a falar, porque Tb eu tenho uma rede dessas, é a rede que protege os optimistas.

    BfdS

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  5. Feliz Dia da Criança!

    (não se apoquente, calha-nos a todos. isso da nostalgia)

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  6. Ana Gonçalves1.6.12

    http://www.youtube.com/watch?v=TazZ-_OAGTo

    Em parte este post trouxe-me esta cena do filme Colisão.

    Dou-lhe os parabéns pela irreverência, num bom sentido, e por trazer até nós tanta verdade sem essa parecer demasiado dramática e com esse pingo de ironia absolutamente fantástica. Fazem falta coisas assim cada vez mais. Bem haja!

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