12 junho 2012

Falando a sério, por uma vez

Nunca fui especial apreciador da escrita de José do Carmo Francisco, reconhecia-lhe a nobre missão de dar um toque pitoresco ao Aspirina B mas normalmente não resistia a prosseguir para além da terceira linha do que escrevia, as coisas são como são e o tempo é o meu bem mais escasso.

Acontece que José do Carmo Francisco deixou hoje de escrever no Aspirina B e isso inquieta-me, mexe-me com os nervos e revolta-me. Em meia dúzia de anos disto dos blogs já vi este filme repetido demasiadas vezes, começa sempre em nome da ironia (foda-se, sabem lá vocês o que é a ironia...) e a coisa começa a entrar em espiral, em crescendo de violência verbal, até se chegar à exposição de pormenores da vida pessoal é um pequeno passo (e não me venham dizer que são as pessoas que se expõem, este meio é demasiado pequeno e a todos nós chegam pormenores da vida pessoal de quem escreve nos blogs, quem é, onde trabalha, como lhe corre a vida, que aderência tem a persona do blog com a pessoa que escreve, tudo isto sem nós verdadeiramente o querermos saber). O fim do filme é conhecido, quem escreve retira-se e quem ataca cobardemente mete o rabo entre as pernas e apodrece por aí, pode voltar a escrever com outra capa qualquer, mas será sempre, para todo o sempre, um pequeno chacal.

Gosto verdadeiramente de quem comenta de peito feito, de quem discorda do que se escreve, de quem argumenta. Seja no Aspirina B, no Tolan, na Pipoca Mais Doce ou onde quer que seja, sempre os haverá, os discordantes, os que deixam o registo de que passaram e não gostaram, os que passaram, abanaram a cabeça em desacordo e foram à sua vida, os que merecem respeito e admiração. Dos outros, os que usam as caixas de comentários para humilhar e para achincalhar, tenho vergonha, a pior das vergonhas que se pode ter, vergonha alheia.

15 comentários:

  1. Hora de imperar o facismo na blogosfera.

    "A tua liberdade termina, onde a minha começa"...o sentido é este.

    Se o dito senhor, deixou de escrever porque se cansou, devemos respeitar.

    Se,por outro lado, foi devido ao achincalhar dos leitores, é pena.

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  2. Nao só é absolutamente lamentável da parte de quem comenta, como de quem permite os comentários.

    Eu, que não modero comentários - o facto de só permitir utilizadores registados praticamente elimina o aparecimento de comentários maldosos -, apago tudo o que me parece inapropriado relativamente a outras pessoas. Por que manter comentários insultuosos é como aceitar e incentivar os mesmos.

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  3. Bem, eu não conhecia o Aspirina B. Pelos vistos, já não vai dar para conhecer, o que também não me arrelia por aí além, devo confessar. Agora, se o Sr. se vai embora por causa de gente paranóica que não tem mais o que fazer senão humiliar por humiliar, a coisa é feia. Muito feia, sim.

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  4. Luna, creio que sempre foi uma postura do Aspirina (como d'A Causa foi Modificada, para só falar de alguns que vou lendo) permitir todos os comentários, sem restrições. Eu gosto do conceito, até porque me lembro dos tempos em que as caixas de coemntários dos blogs eram uma agradável sessão de chat, com conversas cruzadas e em tempo real. Não me parece que toda esta parcimónia com a aceitação de comentários, com aprovação prévia, seja uma coisa boa, aliás, tira toda a força de um blog e toda a beleza que é a troca de argumentos numa caixa de comentários (as caixas de comentários da maioria dos blogs pedreram toda a dinâmica e são pouco mais que uma demonstração alinhamento com o autor do blog)

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  5. Pipoco:

    concordo plenamente, razão pela qual me recuso a moderar comentários - e posso dizer que não apago mais de 2 comentários por ano. Mas se aspectos da vida pessoal de outras pessoas são revelados para as atacar, não hesito minimamente em apagar.

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  6. Estamos então com o pensamento alinhado.

    (o que é estranhíssimo...)

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  7. já agora, há uns tempos apareceu um hate blog que me visava, entre outras pessoas. num post deparei com um comentador anónimo que dizia qualquer coisa como: essa puta (eu) nao aceita comentadores anónimos porque nao quer que lhe digam as coisas na cara (na cara meaning, eu não anónima, contra alguém anónimo), continuando depois com considerações sobre a promiscuidade da minha falecida mãe, e carácter de wife beater do meu pai...
    as pessoas confundem liberdade de expressao e opinião com licensiosidade e impunidade, que são coisas completamente diferentes.

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  8. Luna, nisso tenho sido um privilegiado, que me lembre nunca ninguém me dedicou o seu precioso tempo com isso de hate-blogs, fossem eles dedicados em exclusivo ou colectivos.Os comentários que me chegam são quase todos simpáticos e não tenho memória de me terem brindado com mails anónimos que me aborrecesse. Mas, insisto, sou um previlegiado, bem o sei.

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  9. Anónimo12.6.12

    Quem comenta, tal como na vida devida se lembrar da seguinte maxima: just because you can, doens't mean you should.
    Ora eu sou 'anonima' porque nao tenho blog nem me apetece ter. Gosto de ler por variadas razoes, mas se nao gosto ou nao concordo, pura e simplesmente mudo de pagina. Acho deplorável face á falta de argumentos quando entram na baixaria de ofensas verbais ou ataques pessoais. Se têm algum problema pessoal directo, enviem um mail. Mas isto também se aplica a certos e ditos autores de blogs. Temos a liberdade de expressão, mas hà que ser consciente de alguns limites, e já que se publica a primeira treta que pensaram, que saibam encaixar outros pontos de vista com igual direito de existir na diversidade que é a humanidade.

    Sophia

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  10. independentemente de se ser ou nao comtemplado, o que e faz confusao é haver gente que confunde liberdade de expressão e opinião, com a liberdade de difamar pessoas com base em invenções perversas da sua mente (e até acusações de crimes puníveis por lei), e achar que não se permitir isso é restringir a sua liberdade e nao se ter poder de encaixe. (sim, de facto nao tenho poder de encaixe para permitir que alguém só porque embirra comigo, e para me atingir, decida acusar o meu pai de um crime público, por exemplo)

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  11. já agora, e intelectualizando um pouco, se pensarmos no ensaio sobre a cegueira de saramago, a grande alegoria da cegueira corresponde à falta de vergonha quando o ser humano não se sente observado, deixando de sentir a pressao social para agir civilizadamente, e respeitar as regras civilizacionais, libertando o seu eu selvagem. o mesmo se passa com os anónimos: sem o escrutínio da sociedade, estando livres do olhar dos seus pares, dão asas ao seu eu mais obscuro e selvagem, sem o travão civilizacional da vergonha.

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  12. p.s. aquela gente nunca seria capaz de dizer tais coisas se soubesse que a sua mãe poderia vir a saber.

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  13. Anónimo12.6.12

    @Luna, quem se comporta ou apresenta assim, imagino que são baixo nível até com as própias mães. É que nem todos têm incutido que: if don´t have anything good to say, better shut up.
    Mas suponho que na blogsfera intelectual ambiciona-se informar e discutir ideias, porém poucos sabem da arte da retórica.
    óbvio que tu em tua casa, your rules ...

    Ora mais um tema da actualidade para debater numa noite qente de st. António quando o nectar desperta o filosofo em nós, nos intervalos da palhaçada geral :)

    sophia

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  14. Existe um departamento na PJ que se responsabiliza por crimes informáticos como difamação, usurpação de identidade, calúnia e afim. E não é uma coisa abstracta. Funciona mesmo.
    Nestes casos, mais que levantar celeuma e escândalo público sobre o assunto é activar os mecanismos legais.

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  15. Ainda há dias comentava com uma amiga como a Sónia do Cocó se expõe. Ela respondeu-me que, tendo um blog e FB por razões profissionais, onde usa um nick, não põe fotografias ou qualquer dado pessoal teve um perseguidor que ameaçava, entre outras coisas de lhe cortar as mãos. Foi apanhado pela PJ, está acusado de vários crimes, vai-se a ver e tem mais de 50 anos, é jornalista e psicólogo. Há gente muito doente, muito pior que esses anónimos os quais na maior parte dos casos não passam de cobardezinhos inofensivos e só querem é aborrecer.

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