27 maio 2012

Querida Roberta Medina

Bem sei que as notícias do dia dirão que lá estiveram oitenta e três mil e que foi muito lindo o fogo de artifício, e que os Linkin Park deram quinze a zero aos Smashing Pumpkins, que deram sim senhores, toda a gente viu, mas a verdade é que o que cá me traz é que eu simpatizo com o conceito da coisa e por isso lá fui mais uma vez, e este ano até havia o festival da eurovisão e o jogo da Macedónia o que, parecendo que não, é concorrência da grossa e eu mesmo assim fui.

É por isto, querida Roberta, que gostava de lhe dizer que eu fui, que fui, mas não gostei do que vi, sei o suficiente de quanto valem as marcas e ainda sei mais da temática de destruir marcas em dois tempos, primeiro deu-se o caso de eu esperar duas horas e meia para entrar, ora acontece que eu não sou uma pessoa que aprecie esperar e ainda aprecio menos quando os bilhetes são ao mesmo preço que um camarote a dividir por quatro no Scala e parece-me que os milhares que esperaram tanto como eu, os que assobiavam e batiam nos gradeamentos porque lhes estavam a escapar os primeiros acordes dos Limp Bizkit ainda apreciaram menos que eu, isto para além da questão de as pessoas se libertarem da urina, acontece, cara Roberta, que se dá o caso de as pessoas beberem cerveja nos concertos e dá-se ainda o caso, isto agora vai surpreendê-la, de a cerveja ser um líquido que tem um ciclo bastante curto no interior das pessoas, aquilo é coisa que tem que ser expelida para o exterior o mais depressa possível e, minha cara Roberta, este ano os locais onde acontece essa libertação de líquidos são menos que os do ano passado, talvez seja daquilo das casinhas do Rock Street ocuparem muito espaço, mas a verdade é que me doeu ver as filas de senhoras de tal forma que se adivinhavam uns bons quarenta e cinco minutos de espera e sabe-se bem que nos concertos a rapaziada aguenta a coisa até aos limites, pelo que três quartos de hora não é suportável, isto para além de eu ter assistido à coisa rara de haver confusão nos espaços dos homens, caramba, até os dos clubes da bola se sabem precaver para as enchentes do intervalo, garanto-lhe, minha cara Roberta, que não faz bem à marca ver a rapaziada a aliviar-se por onde calha, alguns directamente nos painéis da cerveja patrocinadora, uma espécie de devolver a coisa às origens, em sentido figurado, claro está, por isso, minha cara Roberta, em verdade lhe digo que no próximo fim de semana não me verá por lá e isto quando o pessoal começa a achar que não vale a pena e que por aquele preço se vai ver o Aznavour a Paris, a marca vai ao charco num instantinho, digo-lhe eu que sei destas coisas em geral e também sei que amanhã a minha cara receberá o relatório do "buzz" nas redes sobre o seu festival e alguém lhe dará a ler este post, de tão bem escrito que está.

10 comentários:

  1. Coisas que não deviam acontecer num grande festival.

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  2. nada que já não se estivesse à espera...

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  3. Não teria dito melhor...

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  4. Caro Pipoco seria natural que soubesse que, na sua idade, já só deveria aparecer nesses festivais, em tendo um bilhetezito para a zona VIP. Já não há paciência para essas enchentes.

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  5. Hahaha maravilhoso. Rock in Rio = No country for old men.

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  6. Anónimo28.5.12

    No dia anterior nada disto aconteceu (excepto o facto de ter esperado um bocado para entrar...). Mas o público de metal é bastante mais civilizado! Ah, e os Smashing deram um óptimo concerto!

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  7. é essa "coisa" da marca como dizes que me incomoda, desde o início. facto aliás relatado lá no meu canto.

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  8. Totalmente de acordo, um bom marketing não chega...

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