21 maio 2012

Há três assim ali na lista de bons blogs do lado. Três e meio, vá...

Reportando-me ao estudo conjunto levado a cabo por Harvard e Cambridge, leio que oitenta e nove por cento das mulheres que escrevem em blogs o fazem por causa de homens. Concordo, o estudo só vem dar alguma credibilidade estatística à minha percepção empírica, ao meu conhecimento das coisas do mundo, aliás, sempre defendi que há um brilho especial na escrita das mulheres amarguradas com isso dos amores perdidos. Descontando os dois por cento de mulheres que escrevem derivado de, algures no tempo, terem sido despachadas por um tipo qualquer e juram para toda a eternidade que escreverão sobre a minúscula genitália do facínora, entremeando os escritos sobre as preferências sexuais alternativas do rapaz, descontando mais vinte e três por cento de mulheres que escrevem para glorificar os seus amores, fazendo saber ao mundo em geral e aos dos blogs em particular que o seu menino saiu para jogar futebol com a rapaziada ou que ontem ele leu três páginas de um livro difícil, maçando-nos com pormenores da vidinha deles lá de casa, tudo cobertores e mantinhas e chás quentinhos com bolachinhas e gatinhos, resta-me debruçar sobre as mulheres que escrevem em blogs que interessam, felizmente a maioria dos que me despertam a atenção, dos que leio com gosto e não apenas para me inspirar para a minha própria produção de escritos.

E dou graças aos céus pelas mulheres que tiveram um desgosto de amor lá atrás, um desgosto tão imenso que tomaram a drástica resolução de inventar um blog que não tenha a palavra "amor" no título nem em qualquer escrito nem tenhas fotografias de artistas a sorrir e jamais use o cor-de-rosa, as que se tornaram cínicas, um delicioso cinismo que as transforma em mulheres muito mais interessantes, as que se protegem com um humor corrosivo até à quinta casa decimal, as que aprenderam a estar sozinhas e descobriram que isso é delicioso, as que não deixaram de ir ao cinema e ao teatro e viajam e nos contam como foi, sempre com aquela linguagem codificada que nos diz que ela sofreu de amores lá atrás no tempo e sobreviveu, as irónicas, as que dão luta e nos fazem pensar que nada somos ao pé delas, as inacessíveis.

19 comentários:

  1. Adoro estas generalizações. Vou imprimir este texto e emoldurar. ^^

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  2. Essa do "e meio" é para o meu modesto lado feminino?

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  3. Só eu valho por uma e meia, esclareça-se.

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  4. OMG Pipoco "Phil" Salgado is that you? Eu bem digo que tem de publicar um livro como o outro das calcas ridiculas e das man handbags, o que nao saiu do armario porque o esta a arrumar- tarefa dificil- o da sua homonima antagonica...
    Baseado no que expos(e Freud explica melhor certamente)poderemos deduzir (as mulheres que simplesmente se querem divertir sem dar muita importancia aos homens que teorizam sobre elas, mas que se riem muito com estes- obrigado pipoco- por verificarem amiude que eles coitaditos sabem la) que o seu conhecimento empirico nao comprovado é baseado em parcas experiencias com mulheres mal amadas?

    xoxo da xuxi

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  5. Oh, damn, eu sabia que não devia ter pintado as unhas de cor-de-rosa.

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  6. Não podia discordar mais.

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  7. Vá lá uma coisa que ainda posso comentar: ainda bem que não estou ali ao lado (nem podia:))

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  8. Concordo que na amargura (principalmente a amorosa) é que surgem os melhores textos. Mas a felicidade nunca fez género literário... e creio que é válido para a escrita feminina e para a masculina. As mulheres gostam mais é de falar, não de ser ouvidas. Os homens de ser ouvidos, independentemente do que dizem. O que me fez pensar: os homens afinal escrevem em blogues porquê?
    Porque o Sporting perdeu?...

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  9. Anónimo21.5.12

    Ora fo*****, não faltava mais nada! Entre um desgosto/um bom blog, antes zeros desgostos e nenhum blog!

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  10. As inacessíveis é mito, ou rótulo.

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  11. Anónimo21.5.12

    Por isso nao tenho um blog. Nao sofri com um desgosto amoroso e detesto cor-de-rosa. Detesto dramas amorosos e banalidades domesticas. Portanto falta-me inspiracao! (coisas de gajas!)

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  12. "mulheres que tiveram um desgosto de amor lá atrás, um desgosto tão imenso que tomaram a drástica resolução de inventar um blog que não tenha a palavra "amor" no título nem em qualquer escrito nem tenhas fotografias de artistas a sorrir e jamais use o cor-de-rosa, as que se tornaram cínicas, um delicioso cinismo que as transforma em mulheres muito mais interessantes, as que se protegem com um humor corrosivo até à quinta casa decimal, as que aprenderam a estar sozinhas e descobriram que isso é delicioso, as que não deixaram de ir ao cinema e ao teatro e viajam e nos contam como foi, sempre com aquela linguagem codificada que nos diz que ela sofreu de amores lá atrás no tempo e sobreviveu, as irónicas, as que dão luta e nos fazem pensar que nada somos ao pé delas, as inacessíveis."


    'Been there, done that. Não tem tanta piada quanto isso, acredita. Além de que nos cansa a beleza! No entanto também a mim me martiriza os blogs cor de rosinha que só falam de produtos de beleza. Mas cada um sabe de si, e se é disso que gostam de falar, va bene, basta não lá por os pezinhos, ou como quem diz, clicar lá com o rato. ;)

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  13. acabei de reparar que não consto na lista do lado. eu às vezes demoro muito tempo a perceber as coisas.

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  14. Boa Anónimo aqui de cima, adorei!!!
    Ainda assim há blogs que se salvam...

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  15. a descrição do último parágrafo é simplesmente deliciosa. já dei comigo a vir cá uma série de vezes para a reler.

    fixações.

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  16. clap clap clap!!!

    Eu gosto de cor de rosa MAS há que admitir a genialidade deste texto cheio de verdades.

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