25 abril 2012

Vinte e Cinco de Abril

Por razões cá minhas gosto de ir até ao salão nobre do meu município e assistir áquilo de as pessoas importantes cá da terra, cravo vermelho ao peito, falarem sobre o vinte e cinco e da liberdade e do que ainda falta construir e de como não deixarão que destruam as conquistas de Abril e o serviço nacional de saúde e coisas assim que Abril nos trouxe. Também gosto de ver os escuteiros e o rancho folclórico e a banda dos bombeiros e a gêéniérre vestidos de gala para o desfile e o desfile são cinquenta gloriosos metros desde o salão nobre do município até uma estátua que há cá na terra. Este ano não houve desfile porque estava a chover, uma chuva miudinha, um quase-nada de chuva e lá se foi o desfile, mais as convicções de Abril.

É por isso que eu acho que se devia fazer um presépio do vinte e cinco de Abril, as pessoas faziam o presépio o mais tardar até dia 15 e teriam que o desmanchar no primeiro de Maio, que ficaria a ser uma espécie de dia de reis do presépio do vinte e cinco de Abril, não sei se ainda me estão a acompanhar, provavelmente não estarão e é pena, a parte mais importante do conceito ainda está para vir, mas os meus caros é que sabem, o tempo é vosso, de maneiras que fazia-se o presépio do vinte e cinco de Abril e a consciência ficava tranquila, tal como no Natal, despachado o presépio está salvaguardada a consciência, podemos passar para o que realmente interessa, que são os presentes de Natal, feito o presépio de vinte e cinco de Abril, estariam garantidos os hossanas à liberdade e aos militares de Abril e podia-se passar directamente para o que interessa que é gozar o feriado o melhor que se pode, no presépio lá estaria o Otelo, acompanhado por uma das suas mulheres, mudava-se a figura conforme calhasse o feriado a um fim de semana ou no período de segunda a quinta, ambos a guardar o menino, que seria aquele rapazinho dos caracóis que aparecia nos cartazes a colocar um cravo no cano de uma gêtrês, só que em palhinhas deitado, lá estaria o Vasco Lourenço no lugar onde nos habituámos a ver o burro do presépio, o que é apenas uma coincidência, no lugar da vaca estaria Soares e os presentes haviam de ser cravos, as chaves de Caxias e outra coisa que agora não me lembro, trazidos pelos reis Magos que chegavam de longe, Cunhal, Salgueiro Maia e Spínola, montados numa chaimite e vitoriados pelo povo, tudo isto em figurinhas de barro  bordejadas a musgo e luzes vermelhas e verdes piscantes ao som de músicas de época, o Depois do Adeus e, lá está, o Grândola, Vila Morena.

9 comentários:

  1. Concordo com a ideia do presépio, acho também deviam enfeitar as ruas com luzinhas e o caralho, para lembrar esta época especial. Epah e para aqueles que querem outro 25 de Abril, acho que fazem bem, porque como nos estão a tirar feriados, caía bem mais um, vejam lá se metem perto de Março, porque há lá poucos.

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  2. Anónimo25.4.12

    A realidade é tanto mais provável quanto mais inverosímil.

    Maria Helena

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  3. Maria Helena, tenho dois projectos para enriquecer, um é o presépio alusivo ao 25 de Abril e o outro é exportar colheres de café para Espanha.

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  4. Eu por mim alinho já; acho que era muito mais engraçado e havia de estimular bastante o comercio o que por sua vez impulsionaria a economia.
    Quando for para recolher assinaturas para submeter a proposta digam, que têm partenaire para a campanha.

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  5. Anónimo25.4.12

    Esse negócio das colheres de café para Espanha é meu, não tenha lá ideias! Tenho testemunhas !
    A ideia do presépio é do Ruben Patrick só pode.
    Sara.

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  6. Já poucas coisas me surpreendem, mas ver Soares a fazer de vaca seria um delírio.

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  7. Deve ser por isso que eu este ano me superei: ainda tenho o presépio montado na sala...

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  8. Anónimo26.4.12

    E as homenagens??
    E o Grândola cantado pelo coro municipal, acompanhado pela banda filarmónica?
    Isso é que é! :)

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  9. Chegar a casa depois de um dia de treta e ler este texto, fez-me pelo menos sorrir:)

    Um sr.soares no lugar da sra vaca é no mínimo muito bom.

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