20 agosto 2010

Pipoco on tour VII

O homem fez-me sinal para parar ali no cruzamento que, em se escolhendo o lado esquerdo se vai para a Lousã e eu parei, páro sempre, já estive dezenas de vezes no lugar daquele homem, ele espreita e vê cordas e cão e crianças, tudo emaranhado e sorri, já não me pede boleia, ainda assim pergunto-lhe de onde vem, perdeu a boleia mas não perde os dois dedos de conversa, vem de Manteigas, três dias a pé, diz que em Portugal "not good luck" para boleias, e aponta para a barba comprida, sorrimos os dois, diz-me que é da Checoslováquia, eu digo-lhe que já não existe e ele responde-me que existia há vinte e um anos , quando saiu de lá para não mais voltar, acrescenta que na verdade não é de lado nenhum, há oito anos que perdeu os documentos e não consegue provar de onde é, lembro-me de filmes com homens assim, mas este homem é bem real e também me parece real a história que me conta, estendo-lhe o dinheiro suficiente para um almoço decente e para apanhar o autocarro para Coimbra. Good luck, my friend, diz-me ele. Fico a pensar quem precisará mais da sorte, se ele, se eu.

4 comentários:

  1. Tu. Definitivamente.

    ResponderEliminar
  2. Ele, porque escolheu a sua própria vda.

    ResponderEliminar
  3. Ele tem a sorte de poder pertencer a qualquer lado, nós vivemos com uma âncora. Definitivamente, tu.

    ResponderEliminar
  4. não creio que haja sorte. há boas e más escolhas, ao final tiramos a média. mas muito bonito o seu gesto.

    ResponderEliminar