17 maio 2010

O meu amigo J. casou-se

O meu amigo J. (chama-se João mas, por razões de confidencialidade e segurança, aprendi que na bloga só se coloca a inicial e um ponto quando se referenciam pessoas), o meu amigo J. casou-e, quem não me conheça, diria que seríamos os amigos mais improváveis, lembro-me sempre da história da Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, eu seria aqui o Zorbas, o gato preto e grande e gordo que ensinou a gaivota a voar, o meu amigo J., o que se casou, é a gaivota pequenina que saiu do ovo, quando convido o meu amigo J. para almoçar cuido sempre de tirar a gravata e desapertar dois botões da camisa, escolho sempre tascas de bairro, daqueles onde se come com as mãos e não perdemos tempo com isso de escolher os vinhos, é sempre uma caneca de super-bock, e não falamos do Brent, nem de Wall Street, falamos de bola e rimos alto, o meu amigo J. acaba sempre a dizer ao dono da tasca, que estranha ver ali um tipo de fato às riscas, que eu sou um irmão, que se não fosse eu o mais certo seria ele ter os dentes da frente todos podres e andar pelos parques de estacionamento com um jornal velho debaixo do braço, a indicar lugares vazios e a pedir moedas, eu digo sempre que não, que ele orientava-se sozinho, depois rimos os dois, ele diz que eu sou o culpado pela inflação e pela crise e por tudo estar tão caro, o dono da tasca pergunta o que é que eu faço e rimo-nos todos, o homem da tasca dá-me sempre uma ou duas teorias para eu aplicar na minha vida profissional, eu digo que sim, que é capaz de não ser má ideia, peço uma bica com cheirinho e cada um de nós vai à sua vida, aposto que o tipo da tasca se vai referir a mim como "estes chulos", o meu amigo J. vai à vida dele e eu vou à minha.

O meu amigo J. casou-se e aposto que nunca dois homens deram um abraço tão forte e tão apertado como o que nós demos no preciso momento em que o meu amigo J. acabou de se casar.

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