31 outubro 2013

Eu, que vai para dezanove anos que escrevo em blogs...

...sei que era capaz de ser incendiário deixar uma palavrinha sobre Carrilho que não fosse para o insultar. (porém, seria um record de visitas...)

30 outubro 2013

Houve um tempo em que ir ao cinema era uma boa experiência

Não foi apenas isso da crise que tirou 1,8 milhões de pessoas às salas de cinema em 2012 e até Outubro deste ano ainda conseguiu tirar mais setecentas mil. O que acontece é que ir ao cinema passou a ser uma experiência grotesca, a que só se vai em casos extremos e em que se sofre por antecipação a tensão que teremos naquelas duas horas de filme. A sala de cinema passou de sítio mágico para um local mal frequentado, onde ninguém se importa que lhes vendam publicidade em doses industriais, onde ninguém se incomoda com o mastigar das pipocas e com o barulho dos sacos de gomas, onde se sorvem refrigerantes, onde se mandam mensagens e se atendem telefonemas, tudo isto dentro de centros comerciais onde nunca se chega a pé. É isto que está a matar o cinema. E, parecendo que não, tenho pena.

29 outubro 2013

Lamborghinis roxos, outra vez

Nesses jantares em que toda a gente cheira demasiado bem, em que me penitencio ter escolhido estar ali quando a coisa certa seria estar num jantar de amigos onde estatisticamente acabaria a noite a jogar poker com fumo de Partagas, nesses jantares onde me sentam ao lado de mulheres com ar de quem tem filhas a quem chamam Constança ou Pilar e filhos Bernardos e Afonsos, em que me são apresentados homens que se chamam Doutor e dois apelidos, todos com ar demasiado pesado para a idade, homens que carregam os problemas do mundo sozinhos apesar de vestirem fatos desses que se compram em centros comerciais, todos manifestando ser sua intenção dar-me uma palavrinha, mais tarde, a seguir aos escalopes de vitela com redução de Armagnac, nesses jantares em que provo o vinho, está bom, pode servir, é sempre uma maçada escolher o vinho porque sei que serei o último a ser servido, nesses jantares, dizia eu, tenho que puxar da minha imaginação para me divertir a calcular a probabilidade de um para três de escolher o copo errado para se servirem de água, a notar a hesitação delas na escolha da posição certa para colocar as mãos, o pavor de dizer a coisa errada no momento errado, bem sei, às vezes divirto-me com coisas estranhas e nem sequer me refiro a isto de ter um blog.

E o dia melhorava...

O Telles de Athayde, quando me pressentia num dia menos bom, peguntava-me se eu ia dormir debaixo de um tecto, se tinha que jantar ao fim do dia e se tinha onde trabalhar no dia seguinte. Depois cumprimentava-me por eu fazer parte dos sete por cento da população do mundo que podia responder afirmativamente às três questões.

28 outubro 2013

Pipoco filosofa sobre uma problemática pertinente

Da mesma forma que estudo afincadamente qual será o processo mental que leva as senhoras mais velhinhas a atravessar as avenidas fora da passadeira, em verdade vos digo que me acontece ficar horas a meditar no paradoxo de serem os mais impreparados a desafiar o perigo e gasto parte do meu tempo a elaborar intrincadas teorias que justifiquem o facto de serem as menos aptas as que arriscam uma improvável correria final que compense algum erro de cálculo na velocidade de aproximação do Opel Astra que ainda agora parecia que estava lá tão longe, da mesma forma que me espanto com isso das velhinhas sem qualquer plano B que possa ser activado em situação de emergência, dizia eu, também me espanto que sejam sempre os mais frágeis ao nível de cérebro aqueles que ousam aborrecer-me, são sempre aqueles com menos capacidade de prever um ponto de fuga os que se dispõem a fazer a coisa errada e isto angustia-me, até porque arriscando imprudentemente aborrecer-me, acabam por ficar dependentes do meu nível de clemência no momento crítico, tal e qual as velhinhas ficam dependentes da caridade da travagem brusca do condutor que, por outro lado, pode estar ainda sob os efeitos de uma jogatana desse jogo em que atropelar velhinhas vale três mil pontos.

27 outubro 2013

Terá corrido mal o prognóstico?

Por um lado estou aqui na fase final de degustação de um Bordéus de noventa e oito, que acompanha na perfeição isto da Nobel deste ano, pés estendidos, apreciando as estrelas que se vêem aqui do lado escuro do sítio onde estou, pensando que a vida é, de facto, uma coisa extraordinária. Por outro lado, tenho umas dezenas de mensagens no telefone que o meu sexto sentido me diz que não são boas notícias.

Três-Um para nós, mas aos oitenta e nove minutos estamos a perder

O que descobri com estes dois gatos pretos, para além de ter tomado conhecimento que o gato preto Glenfiddich afinal é uma gata preta, foi que os gatos são parecidos com as mulheres bonitas, quanto mais fazemos de conta que nos é absolutamente indiferente que eles estejam ali ou noutro sítio qualquer, mais eles se aproximam para nos conhecer melhor e implorar os nossos favores.

26 outubro 2013

Isto anda tudo ligado

Diz que a Liliane Marise, o Alboran e o Bublé vêm todos cantar à minha cidade...

Estou aqui a decidir se o Astérix novo é bom ou mau

Há coisas que não se recusam aos amigos e uma delas é tomar conta de dois gatos pretos durante um mês, o exacto período que durará a visita do meu amigo a Nova Iorque. Dois gatos que apenas me fascinam pelo nome por que atendem, Glenfiddich e Absinto. Pergunto-me porque razão terão estes nomes mas depois, conhecendo o meu amigo, creio que prefiro viver na ignorância dos factos. Nunca gostei particularmente de gatos, creio que o afastamento vem do tempo em que perdia minutos preciosos na minha manhã a tirar gatos minúsculos que se metiam junto ao motor do Alfa Romeo que tinha naquele tempo, uma espécie de tarefa sem fim, fechava o capot, recontava os gatos e faltava sempre um ou dois pares de gatos, pelo que o processo tinha que recomeçar. Estes gatos apostaram entre si que haviam de fazer tudo para me conquistar, mesmo sabendo que gatos não são animais que me fascinem. Vou resistindo como posso, mas afinal estes gatos chamam-se Glenfiddich e Absinto e são pretos e isso, parecendo que não, é capaz de ser o princípio de uma bela amizade.

25 outubro 2013

Em caso de correr mal, compro o Astérix novo no festival da Amadora que começa hoje

Contrariamente a todas as pessoas disto dos blogues, nunca li Alice Munro. Títulos como "O Amor de Uma Boa Mulher", "Demasiada Felicidade", "O Progresso do Amor" ou "Amada Vida" soavam-me sempre a uma mistura de Nicholas Sparks e Michael Bublé. Hoje decidi-me, afinal quem ganha um Nobel em vez do Roth merece os meus favores. Depois de aturado trabalho de escolha acabei por me decidir pelo livro com menos páginas, afinal se a coisa não valer a pena o prejuízo de tempo é menor (a quem possa interessar, os livros de Munro têm entre 257 e 265 páginas). Vamos lá ver se isto de "O Amor de Uma Boa Mulher" se deixa ler ou não.

22 outubro 2013

Ruben Patrick indaga (post para cinquenta comentários. Ou mais...)

Se o Tio Pipoco enveredasse pelo caminho de aqui vir falar do quão espectaculares e precoces são as tiradas dos seus filhos bebés ou de quão harmoniosa é a relação com a sua mulher, tudo resolvido sempre a contento de ambos, com humor e carinho mútuo, a audiência aumentava para o dobro ou reduzia-se a umas míseras quatro mil visitas por dia?

Post para dez comentários

Cinco linhas, não mais de três segundos, é o tempo que tens para me impressionar com a tua escrita. Nem mais uma linha, se me queres cativar é jogar tudo nesses três segundos, não terás segunda oportunidade para uma primeira boa impressão, se não quiseres perder para sempre os meus favores de leitura cativa-me, Garcia Marquez consegui fazê-lo com aquilo do "Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo", Saramago fê-lo ainda melhor com "No dia seguinte ninguém morreu", se não conseguires que o teu post me prenda nas três linhas primeiras perdes-me para sempre, trata lá disso da química da escrita, prende-me, agarra-me, conquista-me, comove-me, desperta-me. Por favor.

21 outubro 2013

Post para dois comentários (sim, o estudo sociológico mais sério da blogosfera está de volta...)

Volto do sítio onde joguei à bola na rua a pensar que será feito do tipo da loja das bicicletas, que agora é um armazém de coisas, que a filha do tipo da mercearia envelheceu mal e isso é uma pena, uma enorme pena, que fico contente por o tipo do café, apesar de terem passado vinte quilos, ainda me reconhecer, apesar do "olha-me este!", efeito da gravata Hermés, as coisas são como são, venho a pensar, janelas abertas apesar da chuva e rádio na Smooth, que será feito do tipo com quem trocava revistas do Homem-Aranha, encontrei-o há uns anos num sítio mau e pediu-me dois euros, os dentes estragados não enganam, que será feito do badocha que se chamava Jacinto, as coisas quando são más vêm aos pares, que só eu defendia, não sei se seria porque o tipo jogava xadrez melhor que eu ou se era mesmo altruísmo, que será feito do cigano Júlio, ficámos amigos depois de uma sucessão de enxertos de porrada mútuos, volto a pensar que é bom ter tido um sítio onde se jogava à bola na rua.

19 outubro 2013

Um homem pode chorar...

...diante do 3 de Mayo de Goya, com as primeiras páginas de Ernestina, com Barenboim a dirigir, com o nascer do sol na lezíria e, naturalmente, com o golo que o Ibrahimovic marcou hoje.

Estou aqui a tomar o primeiro café do dia...

...e pergunto-me porque será que as senhoras velhinhas nas mesas à minha volta falam com uma voz tão fininha quando falam com os netos bebés.

18 outubro 2013

Empregados de café , funcionários das finanças e pessoas que nos tentam passar à frente nas filas seja lá do que for

Eu, que, não parecendo, sou atencioso e gentil a falar com pessoas, começo a acreditar que, quanto mais desagradáveis somos com elas logo no início da conversa, melhor nos tratam.

17 outubro 2013

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Porque isso da paixão, meu caro Ruben Patrick, isso que todos te dizer ser maravilhoso, uma taquicardia permanente, um foco absoluto, uma sensação de que és tu contra o mundo, ninguém mais entende, ninguém sabe tanto quanto tu, um comprimento de onda exclusivo só para ti, isso da paixão, dizia eu, parecendo excelente, não é a melhor coisa que te pode acontecer. Isso da paixão, Ruben Patrick, é como uma fogueira só de caruma, sempre viva, isso é certo, mas sempre carente de acção constante, o calor que se perde pela chaminé, a atenção total, o preocupação contínua para que a chama não esmoreça, uma chama viva mas que acaba num instante quando lhe faltares com o combustível. Imagina agora uma fogueira com lenha de sobro, uma fogueira que teve caruma no início mas que agora tem um bom cepo de sobro a arder, capaz de arder uma noite inteira, um calor bom que se espalha pela sala, um calor acolhedor, uma fogueira que, sendo necessário cuidar dela, te dá tempo para ler e conversar, muito mais do que estar de plantão a despejar caruma no fogo. Isso é o amor, Ruben Patrick, e, quando te disserem que é capaz de não ser coisa inferior a isso da paixão, não farás mal em acreditar.

16 outubro 2013

Pipoco também diz coisas sobre a mala de viagem

E agora a Dom Pérignon fazia uma prova de champanhes na H&M e as pessoas tinham que ir vestidas de Snoopy mas com orelhas de Rato Mickey, e agora a Aston Martin apresentava o novo modelo em Massamá Norte e quem quisesse fazer o test-drive tinha que levar uma rosa comprada a um magrebino chamado Antenor, e agora a Ermenegildo Zegna lançava uns fatos em que a casaco tinha padrão com o perfil da Hello Kitty e as calças eram estampadas em tom zebróide e quem quisesse assistir ao desfile lá na estação de metro de Chelas tinha que ir a fazer flic-flac com triplo mortal encarpado desde a Praça do Comércio, e agora a Dacia oferecia embalagens de Becel a quem comprasse uma primeira edição dos Lusíadas a uma senhora velhinha que tivesse nascido em Mondim de Basto e o filho tinha uma pastelaria que vendia arrufadas com Tulicreme de avelã.

Ruben Patrick também fala sobre malas de viagem

Ora vamos lá a analisar a situação, a pessoa tem que se levantar cedo.

Levantar cedo a um sábado.

Levantar cedo a um sábado e enfiar-se num centro comercial.

Levantar cedo a um sábado, enfiar-se num centro comercial e levar um saco de pipocas.

Levantar cedo a um sábado, enfiar-se num centro comercial, levar um saco de pipocas e dizer que aprecia um blog que diz que uma coisa em condições vai dar quase ao mesmo que uma coisa que não é em condições.

Levantar cedo a um sábado, enfiar-se num centro comercial, levar um saco de pipocas, dizer que aprecia um um blog que diz que uma coisa em condições vai dar quase ao mesmo que uma coisa que não é em condições e desnudar-se.

Levantar cedo a um sábado, enfiar-se num centro comercial, levar um saco de pipocas, dizer que aprecia um blog que diz que uma coisa em condições vai dar quase ao mesmo que uma coisa que não é em condições, desnudar-se e arriscar ganhar uma mala daquelas, que nem sequer é preta.

(Ruben Patrick gostaria de saber quem arquitectou uma promoção destas.)

Ou as que gostam de Wilde e as que não

Oscar Wilde, creio que em Lady Windermere's Fan (claro que foi no Lady Windermere's Fan, isto do "creio que" era para dar um ar a meio caminho entre o blasé e o inseguro...) dizia ser absurdo dividir as pessoas em boas e más, dizia Wilde que as pessoas são, isso sim, entediantes ou charmosas. Já eu, que sou eu, divido as pessoas em dois grupos, as que sabem mais que eu e as que não.