15 dezembro 2013
14 dezembro 2013
Espírito natalício
13 dezembro 2013
Aos meus amores
Os meus dois minutos de fama com J. Rentes de Carvalho
Cancelei a videoconferência com Nova Iorque, antecipei o voo de Madrid, recordei a Maria Gertrudes da minha indisponibilidade para toda a tarde, vesti o meu melhor fato, engraxei os sapatos com mais afinco que nos outros dias, ajeitei o nó da gravata, dei uma última olhadela na minha imagem reflectida no capot preto do carro alemão que mandei lavar, com polimento extra, o normal nestas situações, fiz-me à estrada, imaginei que era a velha estrada de Sintra que os dos livros de Eça percorriam para ir ter com espanholas e cear no Lawrence e foi-me menos penoso passar Massamá e a Damaia, o Cacém e Ranholas. Escolhi uma estação de rádio dessas de música calma e cheguei com tempo à biblioteca municipal, o normal nestas situações.
As senhoras da recepção sorriram-me, é o meu lendário poder sobre senhoras de idade, e lá estava J. Rentes de Carvalho a falar com homens de cara séria e mulheres de olhar embevecido, os grandes escritores têm este efeito.
A cerimónia estava atrasada, o normal nestas situações, respirei fundo, lembrei-me das técnicas de ioga para controlar a pulsação e abeirei-me de J. Rentes de Carvalho, sorriso nervoso, pé ante pé, acercando-me em círculos. "Professor, posso pedir-lhe para me autografar um livro?", disse eu, quase num sussurro, falta de experiência de pedir coisas, J. Rentes de Carvalho, solícito, vendo-me a tropeçar nos meus próprios pés, as mãos trementes, apiedou-se e disse que sim, quis saber o meu nome, o normal nestas situações. "Pipoco Mais Salgado", murmurei, esperando que as senhoras da primeira fila não ouvissem, "Como?" quis saber J. Rentes da Carvalho, "Pipoco Mais Salgado", repeti quase junto à orelha de Rentes de Carvalho, sentindo-me um menino que roubou um doce e foi apanhado, olhei por cima de mim abaixo, fato completo, sobretudo azul, realizando o ridículo de dizer a J. Rentes de Carvalho que me chamava "Pipoco Mais Salgado", lamentando não ter um blog chamado "Benevides de Burnay", felizmente Rentes de Carvalho lembrava-se vagamente de mim, apesar do seu "Não pode ser, não pode ser...", é sempre assim, as pessoas têm expectativas demasiado altas em relação a mim, está sempre a acontecer-me, felizmente chegaram pessoas importantes e J. Rentes de Carvalho, posso apostar que com pena, teve que ocupar o seu lugar na mesa, o normal nestas situações.
E as pessoas falaram e disseram coisas importantes e leram excertos do livro que ali os trazia, o normal nestas situações, e J. Rentes de Carvalho também falou e disse coisas acertadas e de valor, e lá estava eu no final, de novo com o livro estendido e à conversa com o grande J. Rentes de Carvalho e as pessoas a olharem para nós e as senhoras a perguntarem-se quem seria aquele rapaz tão composto, e os fotógrafos começaram a disparar os "flashes", o normal nestas situações, e eu a pensar se seria como nas revistas cor-de-rosa onde apareceria Rentes de Carvalho e eu, e o título do retrato havia de ser "J. Rentes de Carvalho com um amigo" e eu havia de ficar contente porque ser confundido com um amigo de J. Rentes de Carvalho era coisa para ser, de longe, o melhor do meu dia.
12 dezembro 2013
Este ano inventei...
11 dezembro 2013
10 dezembro 2013
No tempo em que não havia Google ...
... eu era o tipo que todos queriam ter na equipa na hora de jogar esses jogos com perguntas em cartões e era eu quem decidia se o rio Jordão desaguava no Mar Morto ou no Mediterrâneo, era a mim que recorriam quando era preciso saber qual era capital do Sri Lanka ou quem tinha escrito "Vermelho e Negro" e quando eu não era conclusivo, não era raro debater-se noite fora se seria Colombo ou Rangun, Stendhal ou Hemingway, inflamava-se a conversa e havia calor na discussão e, não poucas vezes, muitos dias depois, alguém a propósito de nada diria num jantar "Densmore, o tipo chamava-se Densmore" e todos nos recordaríamos que na semana passada ninguém se lembrava do nome do baterista dos "The Doors" e sim, o tipo era o Densmore, John Densmore.
O Google responde em segundos, com um telefone na mão todos sabem tudo e não precisam de saber nada. O Google é um aborrecimento.
Palavra do ano de Pipoco
09 dezembro 2013
Uma menina de três anos perguntou-me isto ontem e eu não soube responder
Será que o escuro também tem medo de nós?
08 dezembro 2013
Somos então chegados às semanas...
Estas são as melhores semanas do ano.
E foi assim que aconteceu
Um homem escolhe ir ver "A Noite", aquilo de Saramago que está no Teatro da Trindade, assiste a um bom desempenho do João Lagarto e do Vitor Norte, mais do João Lagarto, bem entendid,o e depois, quando um homem já abotoa o sobretudo para se fazer ao frio da noite, estendem-lhe uma garrafa de um tinto Ermelinda Freitas, que é oferta, que basta entregar o bilhete, e um homem vê-se assim no Bairro Alto, garrafa de tinto na mão, sobretudo abotoado e, tivesse com que o abrir, era bem capaz de beber directamente da garrafa.
07 dezembro 2013
Espírito natalício
Quando tempo é necessário para voltarmos a aproximar-nos daqueles que nos fizeram felizes?
06 dezembro 2013
Partiu um homem bom
Quando parte um homem bom, há que guardar recato. Há que dirigir o nosso pensamento para o exemplo inspirador e, em silêncio respeitoso, aspirar a fazer quase igual ao que fez o hmem bom que acabou de partir.
Ilustrar a nossa proximidade ao homem bom, tanta que lhe apertámos um dia a mão (que interessa se o homem bom era feito de peças de plástico?) ou propagar as bizarras confusões que os outros (sempre os outros) fizeram com o retrato do homem bom é coisa que, não fosse este recato que nos merece a partida de um homem bom, havia de nos fazer pensar que o ridículo é uma coisa sem limites.
05 dezembro 2013
Baby, it's cold outside
03 dezembro 2013
Agora que todas as meninas disto dos blogs já colocaram os retratos do dia internacional pela eliminação da violência contra as mulheres...
02 dezembro 2013
Post em tempo real
E logo pela manhã, rumo a sul, o aviso no pórtico da autoestrada indicava "Cuidado. Animal na via". Era verdade. Três quilómetros mais à frente lá estava o indivíduo a sessenta à hora, na faixa do meio.
01 dezembro 2013
Dia seguinte
Recordo cada uma das ocasiões em que o Fagundes Meyrelles se apaixonou e o quanto isso me custou em gin bebido a desoras. O Fagundes Meyrelles convencido de que está apaixonado é dos mais memoráveis espectáculos a que posso assistir, é nestes momentos aziagos que aplico toda a retórica que fui aprendendo, que o levo a jantar e lhe tento explicar que a paixão é uma coisa diferente daquilo que ele está a viver. Debalde, com aquele sorriso do tamanho do mundo e aquela generosidade que me deixa sem argumentário, o Fagundes Meyrelles lá se vai desgraçando de paixão em paixão e há alturas em que se casa.
Hoje, naquele abraço que os amigos dão no momento em que cada um fica entregue à sua vida, o Fagundes Meyrelles segredou-me: "Pipoco, já reparaste que, de cada vez em que casei, o Porto perdeu?".
E eu fiquei a pensar nas palavras sábias do Fagundes Meyrelles e em que dia é que calhava bem o próximo casamento.