07 janeiro 2015

Marine Le Pen ganhou hoje as eleições em França

Vamos por partes, noventa por cento dos que hoje nos informam que são Hebdo nunca, antes de hoje, ouviram falar do Hebdo e serão Hebdo durante o exacto tempo em que não lhes aparecer outra coisa para qualquer para dizer que são, isto de ser Hebdo não é para todos, eles sabiam que podiam morrer (desde Rushdie que todos sabemos que podemos morrer) e, mesmo assim, não deixaram de ser Hebdo, normalmente as pessoas gostam mais de estar vivas do que ser Hebdo.

O Hebdo não era grande coisa, em verdade vos digo, mas a tolerância é isto, conviver com os Hebdo's dos jornais, dos programas de televisão, dos blogues, das pessoas, pensando que não havia necessidade daquilo mas aceitando-os, passando à frente e deixando que definhem por haver outros que, tal como nós, não apreciamos aquele mau gosto. Às vezes acontece que afinal as pessoas apreciam aquilo e nada mais nos resta senão encolher os ombros e aceitar que as coisas são como são.

O importante, nesta altura, é não perder de vista que nem todos os caucasianos, nem todos os benfiquistas, nem todos os católicos, nem todos os muçulmanos são má gente e que talvez Deus, qualquer Deus, não nos faça muita falta.

77 comentários:

  1. O q seria de nós sem fé meu caro... Deus faz nos eventualmente falta por isso. De resto, faço minhas as tuas palavras, exceto na convicção de q le pen ganhará as eleições no entanto não é descabido haja em vista o resultado das últimas europeias gostei imenso do post bjo

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    1. Sei que não sobreviveríamos sem fé, Isa. Creio que podemos sobreviver sem Deus.

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    2. Deus é apenas o objeto em quem depositamos a nossa fé, há quem deposite no sporting, na família enquanto instituição, no partido político... :)

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    3. Pipocante Irrelevante Delirante8.1.15

      Tenho fé nas pessoas.
      E no Sporting.

      Basta (?)...

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    4. isso é tudo :) só falta a fé no amor...

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  2. Anónimo7.1.15

    Que texto tão bom e tão atabalhoado! Falta-lhe ali um M no informa e... Faça o favor de reler o parágrafo e corrigir as gralhas Mais Safado.

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    1. Corrigido. Estava, de facto, mauzinho...

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    2. Anónimo8.1.15

      Tem ali um para a mais ("outra coisa para qualquer para..."). Hoje está tenso.

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  3. Na verdade, somos hoje menos Hebdo do que ontem, pois já somos menos livres.

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    1. Cuca, sempre certeira. Não tem a ver com conhecer ou não o Hebdo, mas aquilo que o atentado de hoje significou para todos nós, e a liberdade que é menos liberdade.

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    2. Mais condicionados, sem dúvida. Que não desatemos a amochar.

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    3. Esperamo que não, mas o medo está à espreita, e o medo é uma arma poderosa... e perigosa, como nos diz a história.

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  4. 1. A liberdade de imprensa e de expressão não são negociáveis. Nem a tolerância .

    2. Não, não a França "não se pôs a jeito" como já li por aí ( ao proibir as burkas ou a aceitar humor corrosivo como o do Charlie). As sociedades livres como as europeias ou a americana não são responsáveis pelo terror islâmico, parem de as ( de se) culpar. Aos e dos fanáticos vale tanto uma mulher jezida como um caricaturista francês, ou seja nada.

    3. Conheço o Hebdo há vários ( acompanho o fenómeno dos extremismos político e religioso na Europa há décadas ) e discordo de si quando diz que o Hebdo não era grande coisa. Pelo contrário só pela coragem que demonstraram ao longo destes anos faz deles uma publicação com muito mérito.

    4. Os franceses são inteligentes demais para eleger a Le Pen.

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    1. Desculpe, mas chamar coragem ao acto de troçar dos semelhantes parece-me algo absurdo. Para mim coragem será respeitar ideias alheias ainda que sejam contrárias às nossa próprias convicções. E mérito teriam se, em vez de lançar achas à fogueira, fizessem, através da caricatura, a apologia da paz e do entendimento entre os povos. Mais uma vez peço desculpa, mas isto que acabei de fazer é que é liberdade de expressão. Refutei com respeito a sua opinião e apresentei-lhe a minha. Seria bom que as pessoas experimentassem agir assim: garanto que não dói nada!

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    2. Domadora, o Hebdo era (é?) um pasquim provocador, às vezes demasiado provocador, tão demasiado provocador que perdia conteúdo e graça. Sabiam ao que se sujeitavam e mesmo assim eram como eram. Talvez isso seja de valor, não tenho a certeza.
      (aposto consigo um bom vinho em como os franceses elegem a Le Pen. Espero ter que ser eu a pagar)

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    3. Pipoco, o Charlie é e será uma publicação provocadora. Podemos discutir se de bom ou mau gosto. porém como traçar uma fronteira para a provocação? Queremos mesmo faze-lo e faze-lo sob a égide do medo?

      Aceito a aposta.

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  5. Deus faz-me falta, mas aceito que outros possam viver sem ele ou com um diferente do meu.

    (há muito tempo que não me identificava tanto com um texto seu, ainda que na verdade, e relativamente ao título, acredite que os excessos e reacções extremadas de hoje sejam coisa para durar dois ou três dias e que quando forem a votos os franceses pensem de forma diferente)

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    1. Mirone, creio que isto despertará os franceses para terem que "dar uma lição". Não me parece que le Pen não explore este dia até à exaustão.

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    2. Os franceses são filhos de muitas mães (ie, são a mistura de muitas nacionalidades e credos) e independentemente do desejo de "lição" de muitos, haverá, espero, também muitos suficientemente sensatos para não cederem a extremismos e outros tantos no extremo oposto que tenderão a equilibrar a balança.

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    3. Os do outro extremo, confesso que não sei. Os sensatos quero muito que sim, que votem. Não votar é muito mais que falta de sensatez, é irresponsabilidae.

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    4. Pois, existem filhos de muitas mães, infelizmente a maior parte destes não vai votar.
      Só por exemplo, moro numa "mairie" onde o "maire", completamente de direita, além de todo o trabalho feito, preferiu pagar uma multa ao estado em vez de criar habitações sociais. Onde também os impostos são mais altos. No entanto foi dos poucos, senão o único a ser reeleito na primeira volta, se não estou em erro com uma percentagem acima dos 65%. Só quem está verdadeiramente cansado da situação é que vota, e não, não quero dizer que todos os sociais não valem e é tudo farinha do mesmo saco, mas paga o justo pelo pecador. ..
      E segundo me apercebi, por aqui os franceses, filhos das ajudas sociais não estão interessados em votar.e

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  6. Gosto do último parágrafo.

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  7. Mas caro Pipoco, essa parte em que muitas pessoas dizem que são Hebdo, é meramente simbólico, é apenas uma forma de dizer que são contra actos terroristas. Que estão ao lado dos que perderam entes queridos. Que não se pode calar desta forma a liberdade de expressão. Que as pessoas são livres de escrever, desenhar, da forma que bem entenderem e como bem entenderem. Não gosto especialmente desta publicação, mas isso não me impede de ter ficado chocada com a morte de seres humanos. Neste caso de jornalistas, independentemente do facto de gostar ou não dos cartoons em questão, que por acaso nem sequer gosto, mas aceito que outros gostem. Não se pode é ficar indiferente à forma cruel com que se matam pessoas. Há que separar águas.

    A fé faz falta. A fé por vezes salva pessoas. Mesmo que se vista essa fé em forma de um Deus. O fanatismo é que não. O fanatismo destrói pessoas. Mata pessoas. Tudo o que é excessivo acaba por matar, seja o que for que exista para matar.

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    1. Maria, ter fé e seguir um Deus são coisas diversas.

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  8. Cláudia7.1.15

    Coitado de Deus, tanta merda feita desde sempre por católicos e muçulmanos em seu nome, é grande Deus e por isso as suas costas também são grandes, ou melhor, largas, muito largas. Se não fosse ele, arranjariam outro pretexto qualquer, olhe, já que falou em clubes de futebol, sim, alguns fazem-no em nome de um clube de futebol, se não existisse Deus, talvez fosse esse o pretexto maior, o clube de futebol. Qualquer coisa para satisfazer a sede de poder vale a pena, quando a alma é pequena.

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    1. Talvez seja assim, Cláudia. Se não for em nome de Deus, havemos de ter outro pretexto qualquer.

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    2. Anónimo8.1.15

      ....mas acham mesmo que é em nome de Deus ??? ahahaha

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    3. Cláudia8.1.15

      Claro que não Anónimo, então não percebeu o comentário, Deus, nestes casos é só o testa de ferro.

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  9. Basicamente, e cruamente, o que se passou foi uma demonstração da infantilidade do ser humano. Qual liberdade de expressão, qual quê! Fazer troça da fé de outros é liberdade de expressão? Zombar com uma cultura diferente é liberdade de expressão? Confunde-se muito liberdade de expressão com falta de respeito. E foi isso que aconteceu! Se o vizinho do lado decidir fazer-nos uma careta e chamar-nos um nome feio, todos os dias, quando nos encontra no elevador, quanto tempo aguentaremos sem lhe ir à cara? Natureza humana básica! Mas parece que o mundo perdeu o norte e ser chamado de filho da .... dá direito a socar o vizinho mas fazer troça do profeta de uma religião, segundo a grande maioria dos imbecis humanos, não dá direito a vingança! Urge que a humanidade saia desta pré-adolescência tonta e tome consciência de que todos os actos têm consequência. Uma instrospecçãozinha por parte de cada indivíduo, que agora se mostra indignadíssimo e que acha que o mal no mundo se deve ao Islão, sobre a historieta do vizinho, talvez fosse benéfica...

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    1. "Se o vizinho do lado decidir fazer-nos uma careta e chamar-nos um nome feio, todos os dias, quando nos encontra no elevador, quanto tempo aguentaremos sem lhe ir à cara?"

      Caro Pipoco, peço desculpa, mas vou responder à Isabel neste ponto.

      Isabel,
      Se formos gente civilizada não vamos à cara de ninguém. Garanto-lhe. Não pretendo jamais, em tempo algum, "ir à cara" de alguém, seja em que circunstância for". E já passei por situações limite.

      As ilações que tiro do seu comentário é que faltas de respeito dá-nos pleno direito de pegar numa metralhadora e matar os que nos faltaram ao respeito. Assustador pensar na vida desta forma. Não admira que cada vez mais maridos matem as "suas" mulheres. Vai na volta faltaram-lhes ao respeito...

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    2. Teresa7.1.15

      BELA RESPOSTA MARIA MADEIRA!!!!!!! tiro-lhe O MEU CHAPÉU!!!!

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    3. Cara maria madeira, nada mais longe da realidade essa sua interpretação do meu comentário. Mas, obviamente, tem todo o direito a interpretá-lo dessa maneira. O comportamento humano não é a preto e branco mas sim uma paleta de cores do mais diversificado que possa imaginar. Eu também jamais recorreria à violência! E não entendi bem o seu conceito de "gente civilizada". Será que tem a ver com a "forma" como se resolvem os problemas? Isso faz-me lembrar daquela pessoa que se atreveu a dizer mal de Sócrates e a quem, em nome da "liberdade de expressão" e do "respeito", "civilizadamente" estragaram a vida. Não a mataram mas aniquilaram-na!

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    4. Isabel, não concordo de todo com o que diz.

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    5. Cara maria madeira, para ilustrar o "gente civilizada" que somos, leia a notícia intitulada "Vários ataques a locais de culto muçulmano em França" (Tiros contra sala de preces, granadas contra mesquita e explosão em restaurante de kebabs) no jornal Público de hoje. Parece que, afinal, a barbárie não tem raça, nem cor, nem religião...

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    6. Caro Dom Pipoco, algum motivo em especial o levou à não publicação do meu primeiro comentário de hoje, dirigido precisamente a si?

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    7. Isabel, apesar de ser uma tentação cortar-lhe o direito à liberdade de expressão, não deixei de publicar nenhum comentário seu.

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    8. :-) A minha liberdade de expressão, caro Dom Pipoco, não ofende as convicções profundas de ninguém, não falta ao respeito a ninguém! Mas parece que incomoda. Bastará o caro dizer-me que não sou bem-vinda e não mais aturará as minha opiniões divergentes e dissonantes! Entretanto, talvez tenha havido um problema com o comentário que lhe enviei. Vou enviá-lo novamente e o caro decidirá se o publica ou não. Está em sua casa, a última palavra é sua!

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    9. Quer, então, o Dom Pipoco dizer que não consegue ver no macabro acontecimento o efeito (questionável e reprovável, é certo) de uma causa (também ela questionável e reprovável)? Acha, então, o Dom Pipoco que a liberdade, seja ela do que for, passa por achincalhar os valores de outros? Crê, então, o Dom Pipoco, que a democracia e a tolerância, conceitos tão apreciados (e tão pouco praticados) passam por dizer mal dos outros e tentar impor-lhes os nossos pontos de vista como se nós, os ocidentais, formatados pelos EUA (a verdadeira origem da grande maioria dos males!) fossemos os donos da verdade e da justiça? Hummm...

      P.S. - É este o comentário que pensei ter publicado esta manhã.

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    10. Por acaso a sua opinião, aqui livremente expressa, ofende a minha profunda crença no ser humano e suas capacidades intelectuais. Mas se alguém a quiser calar, Isabel Gonçalves, defenderei intrepidamente o seu direito a tê-la.

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    11. Por acaso zombei de si, cara Izzie? Caricaturei-a zombando das suas convicções profundas? Não, pois não? Apenas expressei a minha opinião. Sente-se ofendida, porquê? Há muita gente que discorda de si. Também se sente ofendida com toda essa gente? Ao contrário de si, se a liberdade de expressão de alguém for no sentido de magoar outrem, eu defenderei que se cale quem magoa!

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    12. Precisamente: zombar de uma crença não é o mesmo que zombar de uma pessoa, pretendendo atingi-la pessoalmente.

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    13. O problema reside, justamente, na zombaria. Liberdade de expressão significa sermos livres de dar a nossa opinião ou expor a nossa linha de pensamento. Mas NÃO significa troçar da opinião dos outros. O problema está na interpretação do conceito. Liberdade de expressão não é lançar pela boca fora toda a espécie de dislates que nos apeteça. O respeito pelos outros está acima de todos esses dislates. Eu posso dizer que não sou a favor disto ou daquilo sem fazer pouco de quem o é. E o facto de divergir não faz do opositor um inimigo. O grande problema está na interpretação de conceitos e na ausência de valores e princípios. Desde Abril de 74 que se confunde liberdade com libertinagem e o resultado está bem à vista:respeito, que é bonito, nem vê-lo; altruísmo é coisa que nem se avista; tolerância confunde-se com subestimação e democracia confunde-se com "eu é que sei", "eu é que tenho razão", "eu é que sou civilizado", etc., etc., etc..

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    14. O direito a emitir opiniões sob a forma de sátira integra o conceito de liberdade de expressão.
      Mas visto que já foi invocado o santo nome do Antigamente, a santidade da Outra Senhora, e como a dissolução de costumes operada depois de abril de 74 é a origem de todos os males, acho que estamos, de facto, em pólos opostos, quer em termos ideológicos como cronológicos, e não há nada a fazer.
      (o Sade era um libertino, através da sua escrita fazia crítica social e sobre costumes, e nasceu antes do 25/04. just sayin')

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    15. Muito gostam as pessoas de rotular as outras. Minha cara, se com a Outra Senhora se quer referir à ditadura e a uma possível simpatia da minha parte por ela, lamento informá-la mas está redondamente enganada. Apenas situei no tempo o início da libertinagem que os lusos, pobres coitados, lacaios alegretes do macabro conjunto EUA/UE, confundem com liberdade!

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  10. Pois, também eu acho que Le Pen está cada vez mais perto de ganhar as eleições.

    Moro há 3 anos em França, antes de vir para aqui não me considerava uma pessoa racista, cautelosa às vezes, mas não racista. Ando há mais de 6 meses a dizer a amigos, família e mesmo a clientes que cada vez gosto menos de mim. Estou-me a tornar uma pessoa com pensamentos racistas, pensamentos xenófobos, saindo-me por vezes esses pensamentos da boca, ficando horrorizada comigo mesmo. Mas a realidade que se vive aqui perto de Paris quase que nos "obriga" a isso. Luto contra estes pensamentos e sensações, considero-me uma pessoa minimamente informada e espero sinceramente que Le Pen não ganhe. Mas os franceses estão francamente a ficar fartos de verem os direitos deles serem-lhes retirados (trabalham, 1 filho, não têm direito a ajudas nenhumas) para serem dados a pessoas que contribuem unicamente com filhos que serão na sua maioria também dependentes do estado.

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    1. R, houve um tempo em que vivi em França e lidei com alguém que detestava muçulmanos. Lembro-me de o tentar demover de tanto ódio e de me ter respondido que eu também não havia de gostar de sair do meu apartamento e ver sangue escorrer pelas escadas porque o vizinho tinha degolado um cordeiro.

      (não é pelo ódio que vamos)

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    2. Permito-me de responder o comentário da R. Também vivo em França há 4 anos e partilho da sua opinião. Moro no centro de Paris e partilho cada sentimento e palavra que escreveu. "Luto contra estes pensamentos e sensações, considero-me uma pessoa minimamente informada e espero sinceramente que Le Pen não ganhe." Porque Le Pen iria instalar o caos, maior do que aquele que já é, visto que a maioria dos estrangeiros e de origem outra que a França, são franceses. Têm a nacionalidade francesa. Houve aqui um problema que remonta aos fins dos anos 50/inícios 60, ligado ao facilitismo em entrar e instalar-se em França, sem perspectivas ou mesmo interesse em trabalhar. Tivesse havido mais controlo e organização, e a França não teria tantos problemas sociais, económicos e políticos.
      No entanto, claro: os muçulmanos não são todos iguais, tal como não o são todos os católicos ou budistas. O que aconteceu hoje em Paris foi um acto terrorista, ligado a extremistas. Todo o extremismo deve ser condenado, venha ele de onde vier.

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    3. Creio que na Holanda o problema talvez não seja tão grave como em frança, mas ainda assim continua a ser: as comunidades muçulmanas vivem em comunidades fechadas, quase "guettos", e há pouca integração, pelo menos a que se esperaria tendo em conta a "abertura" dos países em questão. Mas a verdade é que abertura há muito pouca, tanto de uma parte como de outra. Lembro-me de uma amiga hindu do surimane (ex-colónia holandesa) e como tal holandesa, doutorada, me explicar numa frase como se sentia super integrada na holanda: "estamos todos muito integrados, vivemos todos no mesmo bairro onde nos puseram, só nos damos uns com os outros, e só casamos todos entre nós". E foi claro que não é só problema de quem vem, mas de quem recebe e não integra.
      Na holanda conheci muçulmanos de várias partes do mundo, mais ou menos praticantes, até fui a casamentos de muçulmanos, há para todos os gostos. Conheci pessoas do Irão, Afganistão, Indonésia, Turquia, Egipto, etc, todos muçulmanos e perfeitamente "normais" na nossa concepção.
      Se me senti várias vezes incomodada ao ver gente de niqab, incluindo miudas de 5 ou 6 anos, muito, mas não se pode generalizar.
      Vivi ao lado de uma familia turca muçulmana simpatiquíssima, com quem sempre tive boas relações, ao contrário dos estudantes holandeses que viveram em cima de mim e me infernizaram a vida.
      Em todas as culturas há o bom e o mau, mas o terrorismo é uma coisa à parte, que é injusto imputar a toda uma população religiosa.
      Ja tive conversas com gente que viveu em frança e se sentiu realmente muito incomodada e expressou sentimentos completamente xenófobos, mas espero que a maioria, tento contacto directo com as pessoas, percebam que não é tudo a mesma coisa e que há lugar para todos.

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    4. p.s. para quem nunca viveu fora de portugal há certas realidades que simplesmente não fazem parte, como chegar a um supermercado e todas as caixas usarem véu, etc, o que não deixa de ser um choque.

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    5. Luna, em França (ou pelo menos em Paris) acredito que todos os muçulmanos não têm problemas de integração tão graves ou marcantes como nos relata da Holanda. Não choca ninguém ver tanta gente de véu ou a falar árabe nos transportes. É normal. Pessoas racistas e menos acolhedoras devem existir, mas sinto, desde que vivo cá, que a comunidade árabe não está de todo isolada em comunidades (como está por exemplo a chinesa). Há apoios, há sítios culturais, sítios religiosos, tudo foi criado e implementado para que os árabes franceses sejam vistos e integrados como franceses. Daí fazer-me ainda mais confusão isto tudo. Nem sei o que dizer mais...:(

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    6. Anónimo8.1.15

      Todos somos racistas. TODOS. Não há volta a dar. É politicamente correcto dizer que não somos, mas, lamento, não é verdade.

      A questão agora na ordem do dia, passando e muito pelo racismo, em minha opinião, vai muito mais além: é de terrorismo que se trata. E o terrorismo não passa obrigatoriamente pelo racismo, embora andem muitas vezes de mãos dadas.

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  11. Sinceramente, assalta-me uma nefasta revolta, enfim, todos os dias me acontece o mesmo se leio notícias internacionais.

    Foram assassinadas 12 pessoas.

    Parece-me que ou a "comunicação social" voltou a atolar o cérebro pelo pescoço ou os dirigentes políticos esqueceram essa parte saltando imediatamente para o choque de civilizações, a liberdade de expressão, e o eterno maniqueísmo dos tolos.

    Antes de tudo o resto, foram assassinadas 12 pessoas, como todos os dias são assassinadas milhares de pessoas por todo o mundo pelos motivos mais ridículos que possamos imaginar, números perdidos em estatísticas tão assustadoras quanto a peste.

    Não foi indiscriminado, não houve mártir. Esteve mais próximo de uma guerra-fria de assassinatos por encomenda do que do actual terrorismo, o que por si só levanta muitas dúvidas em relação a muitas coisas.

    Mas ficaria um pouco menos revoltado se as primeiras palavras dos indigentes políticos que assolam a europa tivessem sido dirigidas às famílias das vítimas.

    E a propósito, agnóstico, tenho particular aversão a exegetas, "líderes espirituais" e "textos sagrados", mas convém recordar aos ateus que seria prudente e sensato acabar com esse patético argumento da bíblia, da tora e do corão. Algumas das maiores calamidades da humanidade foram patrocinadas por regimes nada religiosos. Quando toca à "barbárie" uma coisa é certa: é absolutamente transversal.

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    1. Precisamente, meu caro Quiescente, falta uma palavra de conforto para os filhos e amigos daqueles que já cá não estão.

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    2. E, meu caro, quanto à transversalidade da barbárie, basta recordar que o profeta Maomé nasceu por volta do ano 700, setecentos anos depois de Cristo. Se recuarmos setecentos anos estamos no século 14, o tempo áureo das ... cruzadas.

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    3. Busto do Napoleão8.1.15

      Na forma, sim, 12 pessoas foram assassinadas e todos os dias centenas de pessoas são assassinadas. No conteúdo, não, e convém ter em conta a motivação do crime, pois é por aí que reside o problema. Quando um bandido assassina alguém em benefício próprio é uma ameaça para a segurança pública (e não temos alternativa senão aprender a viver com essas ameaças); quando um bandido assassina alguém em benefício de uma certa ideia, aí são os nossos valores morais que são postos em causa (e cabe a cada um de nós reflectir o quão importante eles são e até que ponto estamos dispostos a ir para os defender)

      Quanto à linha de argumentação que eles eram provocadores e isso não se faz, é muito relativismo para a minha camioneta. E como todo o relativismo fica sempre no ar aquela pergunta desagradável do onde é que se põe a tal linha.

      I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it

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    4. Anónimo8.1.15

      Olhe Pipoco, as suas máximas escorregam mutas vezes !! aliás, começam a escorregar demasiadas vezes. O século 14 não foi o tempo áureo das cruzadas...onde é que viu essa ?

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    5. Jaime Cardoso8.1.15

      Quem entender as cruzadas como a guerra santa para recuperar o controlo de Jerusalem, sim, estas tiveram o seu auge no Sec. XIII.
      Se entender as cruzadas como guerra santa (dos católicos pois normalmente às dos outros dá-se outros nomes), o séc. XIV foi o século em que se fizeram as perseguições aos Templários, Itália, Hungria, Polonia, Dinamarca só para referir alguns. Não me choca que alguem considere "o tempo áureo" de uma guerra o periodo em que todos os que morreram eram Europeus.
      Ou então percebemos que 2000-700 anos = 1300 e que +/- 50 anos para cada lado e andavamos todos à pancada em nome de Deus que acho que é mais o ponto do post original.

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    6. Anónimo8.1.15

      Estando de acordo consigo, tenho a certeza que a ideia do Pipoco eram as "cruzadas clássicas". Ele escreve para um público que é inteligente, interessante e culto, na sua maioria, mas não penso que domine essas nuances históricas. Gostei de ler a sua observação.

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    7. Os nossos valores morais? Onde estiveram eles quando travamos guerras por motivos imaginários? Os nossos valores morais são a falácia da europa que contribui para uma África desolada pela corrupção dos recursos naturais e um médio oriente completamente dizimado pelo fanatismo. Onde estão eles, os valores morais da europa, na Síria, na Líbia, no Egipto, na Turquia? Onde estão nas relações comerciais com países como Angola e a China? Os nossos valores morais são o conforto do sofá e o calor de uma manta. As relações internacionais regem-se pelo pragmatismo, não por valores morais, e as nacionais pela simples hipocrisia dos políticos.

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  12. Anónimo7.1.15

    BRAVO !!!

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  13. Anónimo7.1.15

    BRAVO !!!

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  14. Dieu est mort, toujours un peut plus.

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    1. Não creio, Izzie. Não creio mesmo.

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    2. Anónimo8.1.15

      "peu", não peut :)

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    3. Tchi, pois é. Ganda calinada. E dieu ne peut plus, visto que nem un peu dele se vê ;)

      (ei, não fui eu quem deu a má notícia, foi o Fred Nicha, já uma carrada de anos)

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  15. As pessoas estão cansadas de extremismos. O que é caricato, tendo em conta que sim, acredito que Marine Le Pen ficou hoje muito mais perto do poder. As pessoas querem dizer Basta e esta será a maneira de o dizerem.

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    1. Precisamente, S*. As pessoas querem outra coisa e o extremismo é outra coisa.

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    2. Pipoco, cansados dos extremistas, vão votar numa extremista. E assim, provavelmente, as mesquitas serão fechadas em França... o que não é saudável, porque nenhuma generalização é saudável. Mas, com esta barbárie, não consigo criticar quem pensa "era mandá-los todos daqui para fora".

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  16. E em mais um raro momento, embora não inédito, concordamos: este atentado é a gota que dará vitória a Le Pen...

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    1. Também o creio, Luna.

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    2. Pipocante Irrelevante Delirante8.1.15

      A França pode sempre ganhar o próximo Euro com o Benzema a meter 2 golos na Final frente aos branquinhos da Alemanha.

      Mas convenhamos que, liberdades à parte, convém manter certos comportamentos debaixo de olho. Ou se calhar não. Nem sei..

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  17. Anónimo8.1.15

    Lapidar até ao último parágrafo. Sem o oposto a este, os outros, os parágrafos, não fariam sentido

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  18. Infelizmente também concordo! E o que é pior... antevejo que com Le Pen existam mais situações destas (porque como alguém também já afirmou... extremismo leva a outro extremo e andamos sempre num braço de ferro).

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  19. Pipocante Irrelevante Delirante8.1.15

    Finalmente chegou o choque de culturas. A guerra.
    Não é cristãos vs muçulmanos, ou brancos vs árabes, mas Tolerantes vs Intolerantes.

    Desenganem-se, a Guerra está aí. E não começou bem para o nosso lado.

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  20. A fé vive-se á maneira de cada um, mas nunca justifica violência muito menos extremismos radicais sem grande fundamento!

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  21. Anónimo9.1.15

    Tio, você ganhou o prémio de melhor post sobre toda esta embrulhada. "Je suis pas Charlie" e não havia necessidade da provocação pela provocação. Além de ser de uma enorme insensatez para a época que vivemos. Mas como diz, temos de conviver com estas coisas, sem entrar em histeria e despropósitos. Tenhamos esperança, aquilo que é realmente eficaz contra o medo.

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